quarta-feira, 6 de setembro de 2006

De noite...



"Quando me deito ao pé da minha dor,
Minha Noiva-fantasma; e em derredor
Do meu leito, a penumbra se condensa,
E já não vejo mais que a noite imensa,
Ante os meus olhos intimas, acesos,
Extáticos, surpresos,
Aparece-me o Reino Espiritual...
E ali, despido o hábito carnal,
Tu brincas e passeias; não comigo,
Mas com a minha dor ... o amor antigo.

A minha dor está comigo ali,
Como outrora, eu estava ao pé de ti ...

Se eu fosse a minha dor, com que alegria,
De novo, a tua face beijaria!

Mas eu não sou a dor, a dor etérea ...
Sou a Carne que sofre; esta miséria
Que no silêncio clama!

A Sombra, o Corpo doloroso, o Drama ..."


Teixeira de Pascoaes, in 'Elegias'

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