sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Além de ti


Quem?
Quem, além de ti, poderia eu amar assim?


para M.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A sua mais que perfeita imprecisão


"A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;

a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;

a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas."


Nuno Júdice, in 'Teoria Geral do Sentimento'
(No dia em que faço 32 anos.)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Todo o amor


"Os amigos

Esses estranhos que nós amamos
e nos amam
olhamos para eles e são sempre
adolescentes, assustados e sós
sem nenhum sentido prático
sem grande noção da ameaça ou da renúncia
que sobre a luz incide
descuidados e intensos no seu exagero
de temporalidade pura

Um dia acordamos tristes da sua tristeza
pois o fortuito significado dos campos
explica por outras palavras
aquilo que tornava os olhos incomparáveis

Mas a impressão maior é a da alegria
de uma maneira que nem se consegue
e por isso ténue, misteriosa:
talvez seja assim todo o amor"


um poema de José Tolentino Mendonça que lhe dedico no dia do seu aniversário.
Obrigado pela presença, pelo carinho e pela amizade.
Muitos parabéns!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

De uma pátria emprestada


.
"As coisas vulgares que há na vida não deixam saudade,
só as lembranças que doem ou fazem sorrir".
.
Estou em São Paulo. Vim para estar junto da minha avó, hoje, quando passa um ano sobre a sua morte.
Não esqueço este dia. Não esqueço o seu último olhar. Não esqueço o último beijo que trocámos. Não esqueço as promessas de encontros futuros. Não esqueço a esperança de que tudo iria acabar bem. Não esqueço como tudo acabou mal.
Perante o seu túmulo, numa terra que não é a nossa, neste calor de Dezembro de uma pátria emprestada, desejo a chuva e o frio de Lisboa. Só isso faz sentido num dia como o de hoje. Até sempre Avó.


"As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade "

Jorge Fernando por Mariza, in 'Concerto em Lisboa'

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Memória.


Se a minha avó fosse viva, fazia hoje 82 anos. Parto para o Brasil esta noite para a homenagear na cidade em que passou os seus ultimos anos de vida. Dia 8 passará um ano da sua morte. Estarei junto ao seu túmulo para encerrar este ano de luto. E de perdas. A dela foi apenas a primeira.
Neste dia do seu aniversário, fica um ramo de rosas vermelhas, as suas flores favoritas. Amanhã estaremos mais próximos.


"Encham a casa de rosas
Mas de rosas naturais
Dessas que trepam viçosas
Pelos muros dos quintais

Rosas de todas as cores
Que me tragam alegria
Que têm todas as flores
Abertas à luz do dia

E que sejam macias
Para as ter ao pé de mim
Mas não sejam rosas frias
Como essas de cetim

E seja tudo surpresa
Como se fosse a sonhar
Ponham, ponham flores na mesa
Que hoje não quero chorar."

Fernando Tavares Rodrigues por Katia Guerreiro