quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Da tristeza e da alegria

"Trago o fado nos sentidos
Tristezas no coração
Trago os meus sonhos perdidos
Em noite de solidão
Trago versos, trago sons,
De uma grande sinfonia
Tocada em todos os tons
Da tristeza e da alegria.
Trago amarguras aos molhos
Lucidez e desatino
Trago secos os meus olhos
Que choram desde meninos
Trago noites de luar
Trago planícies de flores
Trago o céu e trago o mar
Trago dores ainda maiores"
Amália Rodrigues, in 'Versos'

The cradles that surround us

"(...)
It embraces everything, night and dreams
Silence that arouses anxiety
Night that envelops sadness and despair
Dreams of hope for a transformation.
Let us take heed of Job
Then maybe we'll prevail against
The slogans, the labels, illusions and indifference,
The cradles that surround us."

tirado daqui

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Descanso

"Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura."
Guimarães Rosa, in 'Grande Sertão: Veredas'

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Faces nuas

"(...) é o olhar total, que nunca pode
ser cantado nos poemas ou na música,
porque é tão-só próprio e bastante,
em si mesmo absoluto táctil,
que me cega, como a chuva cai
na minha cara, de faces nuas,
oferecidas sempre apenas à água."


Fiama Hasse Pais Brandão, in 'Cenas Vivas'

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

To put it away

"Dear Leonard. To look life in the face, always, to look life in the face and to know it for what it is. At last to know it, to love it for what it is, and then, to put it away. Leonard, always the years between us, always the years. Always the love. Always the hours."

sábado, 18 de agosto de 2007

A independência da solidão

"O que me importa unicamente é o que tenho de fazer, não o que pensam os outros. Esta regra, igualmente árdua na vida imediata como na intelectual, pode servir para a distinção total entre a grandeza e a baixeza. E é tanto mais dura quanto sempre se encontrarão pessoas que acreditam saber melhor do que tu qual é o teu dever. É fácil viver no mundo de conformidade com a opinião das gentes; é fácil viver de acordo consigo próprio na solidão; mas o grande homem é aquele que, no meio da turba, mantém, com perfeita serenidade, a independência da solidão."

Ralph Waldo Emerson, in 'Essays'

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Tenho saudades tuas...

Sinto a tua falta. E nem o dourado do sol nestes dias de céu azul, nem o calor afrodisíaco das noites de Agosto, nem tão pouco a certeza de que o verão vai chegar ao fim, ajudam a esquecer a falta que me fazes. Este é o dia em que as certezas se transformam em dúvidas, em que os risos se convertem em lamentos, em que a constatação de te ter perdido faz com que o inverno chegue muito mais cedo. Tenho tantas saudades tuas. Do sal no teu corpo, do sol nos teus olhos, das estrelas no teu sorriso. Da forma como te entregavas. E não sei tão pouco se ainda te amo ou se isto é apenas a saudade dos dias mais felizes da minha vida, os que passei ao teu lado, nesses verões em que o mar era o nosso denominador comum e o alentejo era a nossa casa.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Os olhos ocos do mar

Fugir, fugir, fugir do sal, do perigo, do solitário círculo da água onde os olhos ocos do mar (ou seriam os teus olhos?) desinquietaram o espantado buguês da cidade...

terça-feira, 7 de agosto de 2007

A lembrança deste amor

"Se já não lembras como foi,
Se já esqueceste o meu amor,
O amor que dei e que tirei,
Não queria lamentar depois.
Mas uma coisa é certa, eu sei.
Não tive nunca amor maior.
E ainda vivo o que te dei,
Ainda sei quanto te amei,
Ainda desejo o teu amor.

Não tenho esperança de te ver,
Não sei amor onde andarás.
Pergunto a todo o que te vê
E nunca sei como é que estás.
Agora diz-me o que farei
Com a lembrança deste amor.
Diz-me tu, que eu nunca sei,
Se voltarei ou não para ti,
Se ainda quero o que sonhei."

Pedro Ayres Magalhães, in 'Fado das Dúvidas' por Madredeus

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Shadows and light

"Far away, far away,
Far away from here...
There is no worry after joy
Or away from fear
Far away from here.
Her lips were not very red,
Nor her hair quite gold.
Her hand plays with rings.
She did not let me hold
Her hands playing with gold.
She is something past.
Far away from pain.
Joy can touch her not, nor hope
Enter her domain,
Neither love in vain.
Perhaps at some day beyond
Shadows and light
She will think of me and make
All me a delight
All away from sight."

Fernando Pessoa

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Estar vago

"Nessa parede verde da hera
o teu rosto cada vez ganha mais forma,
entre as mãos de verdura estendidas
aos ventos que as dobram e movem.

Quando te vejo na luz ou nessa sombra
estar vago e ser tão próximo,
só tu sendo não sabes onde te vejo,
só eu muda não digo onde te guardo."

Fiama Hasse Pais Brandão, in 'Cenas Vivas'

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Repugnância pela vida

"Estava aqui sentado e sabes o que cogitava para comigo? Se não tiver fé na vida, se perder a confiança na minha mulher amada, se perder a fé na ordem das coisas e se, pelo contrário, me convencer de que tudo é um caos desordenado, maldito e, talvez, diabólico, se me atingirem todos os horrores da desilusão humana, desejarei na mesma viver, e já que levei à boca esta taça, não a largarei até que beba a última gota! Aliás, aos trinta anos sou capaz de largar a taça, mesmo que não a tenha bebido até ao fim, e de me afastar... não sei para onde. Mas, até aos trinta, sei muito bem que a minha juventude vencerá tudo, vencerá qualquer desilusão, qualquer repugnância pela vida. Tenho perguntado a mim mesmo muitas vezes: haverá no mundo um desespero que possa vencer em mim esta sede de vida, frenética e, talvez, indecente? Cheguei à conclusão de que, pelos vistos, não existe, pelo menos até aos tais trinta anos; e, ao chegar lá, repito, talvez já não anseie por nada, assim me parece."


Fiodor Dostoievski, in 'Os Irmaos Karamazov'

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Inferno de amar

"Este inferno de amar - como eu amo!
Quem mo pôs aqui na alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela apagar?
Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que antes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?
Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o sol com tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei..."

Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'