sexta-feira, 20 de março de 2009

Um dia


Um dia ainda hei-de falar-te da falta que me fazes...

quinta-feira, 19 de março de 2009

Aconteceu

"Aconteceu quando a gente não esperava
Aconteceu sem um sino pra tocar
Aconteceu diferente das histórias
Que os romances e a memória
Têm costume de contar
Aconteceu sem que o chão tivesse estrelas
Aconteceu sem um raio de luar
O nosso amor foi chegando de mansinho
Se espalhou devagarinho
Foi ficando até ficar
Aconteceu sem que o mundo agradecesse
Sem que rosas florescessem
Sem um canto de louvor
Aconteceu sem que houvesse nenhum drama
Só o tempo fez a cama
Como em todo grande amor"

Adriana Calcanhoto por Cristina Branco, in 'Corpo Iluminado'

quarta-feira, 18 de março de 2009

Um dia puro

"Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas."

Sophia de Mello Breyner Andresen
(para ti.)

terça-feira, 17 de março de 2009

Sem razão

A Tristeza anda a rondar-me...
(Sem razão aparente. E se é mesmo verdade que eu não sei ser feliz?)
imagem roubada daqui

segunda-feira, 2 de março de 2009

Em silêncio


"Saudades! Sim... talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!"


Florbela Espanca

A minha tia Rosinda morreu ontem. Olho para o teclado do meu computador porque queria escrever qualquer coisa sobre ela, uma homenagem, um texto que pudesse dizer a falta que vou sentir dela. Mas a verdade é que só mesmo o silêncio me convém. O silêncio para que me lembre da sua voz a declamar Florbela Espanca enquanto cozinhava. O silêncio para poder escutar a sua gargalhada quando contava histórias antigas da família. O silêncio para poder ouvir a sua forma romântica de falar das coisas mais vulgares como os amores e desamores das princesas europeias.
A minha tia Rosinda era uma mulher única. Lia poesia com o mesmo fervor com que discutia as revistas do social. Falava de História com a mesma paixão com que preparava as mais extraordinárias refeições para toda a família. Era uma chefe de clã. Motivava-nos, mimava-nos, repreendia-nos. Tratava-nos a todos como se fossemos seus filhos. E quando estávamos juntos, entre almoços, chás, jantares e ceias, descobríamos que éramos todos do mesmo sangue ainda que fossemos de sangues diferentes.
A minha tia Rosinda, casada com o irmão mais velho do meu pai, o meu tio Zé, foi a minha primeira avó. Com ela aprendi que devemos seguir sempre os nossos sonhos, por mais disparatados que nos pareçam. Aprendi que amar é uma luta diária mas que diariamente vale a pena. Aprendi que os amores só são impossíveis se desistirmos de os viver.
O peso da sua ausência é intransponível. Voltar à Quinta das Mimosas sem a sua presença é enfrentar um silêncio terrível. A sua morte, ontem, representa o fim de um ciclo feliz. Se há três meses a morte da minha avó Maria do Carmo foi um duro golpe, a morte da minha tia Rosinda, ontem, representa o fim da minha infância. A partir de hoje espero tudo. Porque o seu sorriso quando nos encontrávamos representava a pureza dos anos em que fui mais feliz. E esse sorriso será em silêncio que o recordarei. Para sempre.