segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Morte


"O que mais me intriga e dói na nossa morte, como vemos na dos outros, é que nada se perturba com ela na vida normal do mundo. Mesmo que sejas uma personagem histórica, tudo entra de novo na rotina como se nem tivesses existido. O que mais podem fazer-te é tomar nota do acontecimento e recomeçar. Quando morre um teu amigo ou conhecido, a vida continua natural como se quem existisse para morrer fosses só tu. Porque tudo converge para ti, em quem tudo existe, e assim te inquieta a certeza de que o universo morrerá contigo. Mas não morre. Repara no que acontece com a morte dos outros e ficas a saber que o universo se está nas tintas para que morras ou não. E isso é que é incompreensível - morrer tudo com a tua morte e tudo ficar perfeitamente na mesma."

Vergílio Ferreira, in 'Escrever'

2 comentários:

Mandrake disse...

Nenhuma morte muda o mundo, nenhum mundo munda a morte.. mas se a morte não deixa marca, ou é falta de sensibilidade de quem fica, ou de quem vai falta de sorte..

firmina12 disse...

somos nada e como tal devemos viver