sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Fragilidade


"Como poderia eu ter imaginação para te reconstituir na sólida delicadeza da tua fragilidade? (...) O amor e a morte inserem-se um no outro, deves saber. Mas eu sobrevivi e isso é uma condenação. Penso-te e o teu esplendor renasce-me no meu pensar e a minha idade retrai-se quando me apareces. E a eternidade em que se vive, mesmo se a velhice é real, restabelece-me igual a ti que nunca envelheceste. E não me perguntes porque te escrevo se tudo é em vão. Mas há o meu desejo de te fixar na palavra escrita que te diz, para ficares aí com o milagre que puder. É Primavera e tudo é nítido no seu ser real. Os campos cobrem-se de relva, as flores despertam da sua hibernação, passa na aragem o perfume da vida, de tudo o que é vivo no mundo. A luz nítida demora-se no cimo dos montes e eu olho-a na sua agonia para um pouco existir no que te digo. Ou no teu nome de que nao gostava muito e agora renasce em sonoridade branda quando o penso ou o escrevo ou o digo em voz alta."
Virgilio Ferreira, in 'Para Sempre'

1 comentário:

Mandrake disse...

Brutal.. gostei pedro.. diz-me: que livro é esse? abraço