quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Nada

"Numa ânsia de ter alguma cousa,
Divago por mim mesmo a procurar
Desço-me todo, em vão, sem nada achar,
E a minha alma perdida não repousa.

Nada tendo, decido-me a criar:
Brando a espada: sou luz harmoniosa
E chama genial que tudo ousa
Unicamente à força de sonhar...

Mas a vitória fulva esvai-se logo...
E cinzas, cinzas só, em vez de fogo...
-Onde existo que não existo em mim?

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Um cemitério falso sem ossadas,
Noites d'amor sem bocas esmagadas
-Tudo outro espasmo que principio ou fim..."


Mário de Sá Carneiro, in 'Obra Poética Completa'

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