sábado, 6 de janeiro de 2007

O quereres...

"Onde queres revolver, sou coqueiro. E onde queres dinheiro, sou paixão. Onde queres descanso, sou desejo. E onde sou só desejo, queres não. E onde não queres nada, nada falta. E onde voas bem alto, eu sou o chão. E onde pisas o chão, minha alma salta, e ganha liberdade na amplidão. Onde queres família, sou maluco. E onde queres romântico, burguês. Onde queres Leblon, sou Pernanbuco. E onde queres eunuco, garanhão. Onde queres o sim e o não, talvez. E onde vês, eu nao vislumbro razão. Onde queres o lobo, eu sou o irmão. E onde queres cowboy, eu sou chinês. Onde queres o acto, eu sou o espírito. E onde queres ternura, eu sou tesão. Onde queres o livre, decassílabo. E onde buscas o anjo, eu sou mulher. Onde queres prazer, sou o que dói. E onde queres tortura, mansidão. Onde queres um lar, revolução. E onde queres bandido, sou herói.
(...)
O quereres e o estares sempre a fim, do que em mim é de mim tão desigual, faz-me querer-te bem, querer-te mal. Bem a ti, mal ao quereres assim. Infinitamente pessoal. E eu querendo querer-te sem ter fim. E querendo-te, aprender o total do querer que há e do que não há em mim."

'O Quereres' de Caetano Veloso, por Lula Pena in 'Phados'

1 comentário:

Anónimo disse...

"...Eu queria querer-te e amar o amor, construirmos dulcíssima prisão. E encontrar a mais justa adequação, tudo métrica e rima e nunca dor, Mas a vida é real e de viés, e vê só que cilada o amor me armou: Eu te quero e não queres como sou, não te quero e não queres como és. Onde queres comício, flipper vídeo, e onde queres romance, rock'n roll, Onde queres a lua eu sou o sol, onde a pura natura, o inseticídeo, E onde queres mistério eu sou a luz, onde queres um canto, o mundo inteiro, Onde queres quaresma, fevereiro, e onde queres coqueiro eu sou obus..."