"(...) tenho sentido a tua ausência nas palavras que não te escrevo. Trabalho, muito, distracções várias, preocupações mil que me afastam de ti. Nas palavras quero dizer. Em pensamento, tu a interromperes-me as manhãs as tardes as noites. As mesmas manhãs tardes noites que não te escrevo. Sinto-te na ausência do que não digo. Preciso de escrever-te.
Repito: preciso de escrever-te.
Na altura em que acordavas ao meu lado, por vezes achei que tinha tudo por garantido e descurei de elaborar versos com as nossas vidas. Mesmo que não os apreciasses e optasses por dar mais atenção à necrologia dos jornais que não lias. Nessa altura, achava que dizer
-adoro-te
era o mesmo que escrever-te um caderno inteiro só com poemas. Nessas alturas,
- adoro-te
era suficiente para ti, pois nunca aceitarias nada que tivesse maior extensão que aquele microsegundo em que me ouvias e fingias acreditar. Por vezes, abraçados à vida, no cheiro de um e outro confundido na pele, respondias na inevitável repetição do
- também te adoro,
e o meu peito, buscando forças para acreditar no que dizias, sorria. Dali a um pouco, deixar-te-ia. Iria à minha vida e tu continuarias na tua. Os versos que antes te escrevera, tu irias esquecê-los, ao passo que eu optava por recordá-los, aspirando ter oportunidade de os reproduzir numa outra noite em que me dissesses
- adoro-te
e eu, abraçado à vida, no cheiro de um e outro confundido na pele, pudesse responder-te na inevitável repetição de
- também te adoro.
Sabíamos que eram pequenas verdades como estas que nos davam forças para continuar a nossa grande mentira."
Repito: preciso de escrever-te.
Na altura em que acordavas ao meu lado, por vezes achei que tinha tudo por garantido e descurei de elaborar versos com as nossas vidas. Mesmo que não os apreciasses e optasses por dar mais atenção à necrologia dos jornais que não lias. Nessa altura, achava que dizer
-adoro-te
era o mesmo que escrever-te um caderno inteiro só com poemas. Nessas alturas,
- adoro-te
era suficiente para ti, pois nunca aceitarias nada que tivesse maior extensão que aquele microsegundo em que me ouvias e fingias acreditar. Por vezes, abraçados à vida, no cheiro de um e outro confundido na pele, respondias na inevitável repetição do
- também te adoro,
e o meu peito, buscando forças para acreditar no que dizias, sorria. Dali a um pouco, deixar-te-ia. Iria à minha vida e tu continuarias na tua. Os versos que antes te escrevera, tu irias esquecê-los, ao passo que eu optava por recordá-los, aspirando ter oportunidade de os reproduzir numa outra noite em que me dissesses
- adoro-te
e eu, abraçado à vida, no cheiro de um e outro confundido na pele, pudesse responder-te na inevitável repetição de
- também te adoro.
Sabíamos que eram pequenas verdades como estas que nos davam forças para continuar a nossa grande mentira."
Paulo Ferreira, in 'Cartas a Mónica'
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