Sento-me e peço un gin tónico. A Pamela atende-me com o sorriso de sempre, aberto, carinhoso, fiel. Percebo no seu olhar a surpresa de me ver pedir uma bebida tão forte quando ainda não é meio-dia. Mas não diz nada. Baixa os olhos, como eu os baixo por sentir que a minha angústia está espelhada no meu rosto.
À minha volta há demasiada gente, demasiada luz. Há barulho de crianças a correr pela praça e há conversas cruzadas. Todos parecem ter algo a dizer. Eu não converso com ninguém. Não tenho com quem conversar. Ninguém sabe quem sou, de onde venho e porque estou ali sentado, a beber um gin tónico quando ainda não é meio-dia. Nunca ouviram falar de ti nem da demência que a tua ausência quase me causou. Ninguém sabe que desde que partiste eu não vivi, eu sobrevivi apenas. Ninguém faz ideia de como me perturbam e me irritam as gentes, a luz em demasia, as crianças a correr pela praça, as conversas cruzadas. Ninguém imagina como queria ter para onde ir, como queria ir para qualquer lugar, deixar para trás as recordações de um tempo sem recordações e aceitar que tudo vai ser diferente daqui para a frente...
Na rádio toca "Los Panchos". Associo-te a esta música. É quente... e apesar de estarmos em Agosto e de os termómetros marcarem mais de 30 graus, morro de frio ao pensar na tua ausência...
1 comentário:
tiro o gelo do teu copo sem que o notes...
porque esse frio,
sei-o eu.
Enviar um comentário