Chegou a casa e a primeira coisa que fez foi pôr a tocar o Cansaço, de Amália Rodrigues. Sempre que ouvia esta música sentia-se um pouco melhor. SEMPRE. A sua letra, simples, retratava um estado de espírito. Revia-se nela vezes sem conta. Cansaço era talvez a palavra que mais lhe passava pela cabeça. Cansaço quando acordava. Cansaço quando se arrastava para fora da cama. Cansaço quando saía de casa. Cansaço quando trabalhava quase mecanicamente. Cansaço quando voltava a casa ao fim do dia. Cansaço. Um cansaço intrínseco, real, palpável, que o paralisava, que tolhia, que impedia. Era um profundo desencanto com o mundo, com a vida. Era o ter tudo e não ter nada. Mas era também o não querer nada. Nem ninguém.
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"Daí este meu casanço/ de sentir que quanto faço/ não é feito só por mim".
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