sábado, 5 de abril de 2008

Dói no corpo devagar



"Esta palavra Saudade
Sete letras de ternura
Sete letras de ansiedade
E outras tantas de aventura
Esta palavra saudade
A mais bela e a mais pura
Sete letras de verdade
E outras tantas, de loucura
Sete pedras, sete cardos
Sete facas e punhais
Sete beijos que são dados
Sete pecados mortais
Esta palavra saudade
Dói no corpo devagar
Quando a gente se levanta,
fica na cama a chorar
Esta palavra saudade
Sabe a sumo de limão
Tem um travo de amargura,
Que nasceu no coração
Ai palavra amarga e doce
estrangulada na garganta
Palavra com se fosse
o silêncio, que se canta
Meu cavalo imenso e louco
a galopar na distância
Entre o muito e entre o pouco,
que me afasta da infância
Esta palavra saudade
é a mais prenha de pranto,
como um filho que nascesse
Por termos sofrido tanto
Por termos sofrido tanto
É que a saudade está viva
São sete letras de encanto
Sete letras por enquanto,
Enquanto a gente for viva
Esta palavra saudade
sabe ao gosto das amoras
Cada vez que tu não vens,
cada vez que tu demoras
Ai palavra amarga e doce,
debruçada na idade
Palavra como se fossemos
resto de mocidade
Marcada por sete letras
a ferro e a fogo no tempo
Ai, palavra dos poetas
que a disparam contra o vento
Esta palavra saudade
dói no corpo devagar
Quando a gente se levanta
fica na cama a chorar
Por termos sofrido tanto
É que a saudade está viva
São sete letras de encanto
Sete letras por enquanto,
Enquanto a gente for viva"

J. C. Ary dos Santos, por Marisa Pinto em 'Um País chamado Simone'

4 comentários:

Pedro Fitch disse...

Belíssimo! É de se ficar inquieto...

Anónimo disse...

Canção arrepiante de um grande poeta numa interpretação inesquecível.

L. disse...

desculpa a invasão e auto-promoção

acrescentei-te aos meus links, já que pareces interessada nestes mundos e pretendo ter um máximo de links assim lá no blog

comecei a postar alguns anos da minha poesia
passa lá na tasca, quem sabe te interessa qualquer coisa

Ana Rufino disse...

é dos meus poemas preferidos... sempre que o oiço cantado arrepio-me...
bravo!