domingo, 4 de maio de 2008

E por vezes feliz

"(...)
Não existe a fusão de duas vidas. Pelo menos para mim não. Às vezes, por alguns momentos, sim. Mas será que esses momentos justificam a união para uma vida inteira? Será que essa meia dúzia de momentos consegue cimentar uma vida em comum? Porém também há um sentimento forte. E por vezes feliz. Só. Deus. Mas custa. Porque o mundo permanece inóspito. 
O meu coração é muito bravio, mas nunca para uma só pessoa. Para todas as pessoas. Este coração é também, creio, muito rico E antigamente pensava sempre como é que o iria dar a uma só pessoa. Mas isto não tem sentido. E quando uma pessoa aos 27 anos atinge estas pesadas "verdades", se isso provoca, por um lado, um sentimento de desespero e solidão e medo, por outro, também provoca uma sensação de independência e de orgulho. Estou confiada a mim mesma e terei de me desembaraçar sozinha. O único padrão que tens és tu própria. Repito-te mais uma vez. E a única responsabilidade com que poderás arcar na tua vida, é para contigo própria. Mas neste caso também terás que o fazer totalmente."

Etty Hillesum, in 'Diário 1941-1943'

2 comentários:

moura disse...

Quem diz isto nunca sentiu amor a sério, paixão ou o que seja. Está apenas a deambular sobre um sentimento. Quando a seta se crava, não se pensa se vai durar a vida inteira nem o que isso significa. Quere-se estar com o outro, o tempo todo, a vida inteira, e tudo parece maravilhoso mesmo quando se sofre. Se dura ou não, logo se vê. Mas não dá para muitos cálculos...e sobretudo, quando se gosta de alguém, a solidão torna-se insuportável.

moura disse...

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca