quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Todo o amor que nos prendera




"Todo o amor que nos prendera
Como se fora de cera
Se quebrava e desfazia.
Ai funesta primavera,
Quem me dera, quem nos dera
Ter morrido nesse dia.
E condenaram-me a tanto,
Viver comigo o meu pranto,
Viver, e viver sem ti,
Vivendo sem no entanto
Eu me esquecer desse encanto
Que nesse dia perdi.
Pão duro da solidão
somente o que nos dão a comer.
Que importa que o coração
Diga que sim ou que não
Se continua a viver.
Todo o amor que nos prendera
Se quebrara e desfizera,
Em pavor se convertia.
Ninguém fale em primavera,
Quem me dera, quem nos dera
Ter morrido nesse dia."

David Mourão-Ferreira por Amália Rodrigues

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