sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Entre o muito e entre o pouco que me afasta da infância



"Esta palavra Saudade
Sete letras de ternura
Sete letras de ansiedade
E outras tantas de aventura
Esta palavra saudade
A mais bela e a mais pura
Sete letras de verdade
E outras tantas, de loucura
Sete pedras, sete cardos
Sete facas e punhais
Sete beijos que são dados
Sete pecados mortais
Esta palavra saudade
Dói no corpo devagar
Quando a gente se levanta,
fica na cama a chorar
Esta palavra saudade
Sabe a sumo de limão
Tem um travo de amargura,
Que nasceu no coração
Ai palavra amarga e doce
estrangulada na garganta
Palavra com se fosse
o silêncio, que se canta
Meu cavalo imenso e louco
a galopar na distância
Entre o muito e entre o pouco,
que me afasta da infância
Esta palavra saudade
é a mais prenha de pranto,
como um filho que nascesse
Por termos sofrido tanto
Por termos sofrido tanto
É que a saudade está viva
São sete letras de encanto
Sete letras por enquanto,
Enquanto a gente for viva
Esta palavra saudade
sabe ao gosto das amoras
Cada vez que tu não vens,
cada vez que tu demoras
Ai palavra amarga e doce,
debruçada na idade
Palavra como se fossemos
resto de mocidade
Marcada por sete letras
a ferro e a fogo no tempo
Ai, palavra dos poetas
que a disparam contra o vento
Esta palavra saudade
dói no corpo devagar
Quando a gente se levanta
fica na cama a chorar
Por termos sofrido tanto
É que a saudade está viva
São sete letras de encanto
Sete letras por enquanto,
Enquanto a gente for viva"

J. C. Ary dos Santos, por Marisa Pinto em 'Um País chamado Simone'
Já aqui tinha publicado este poema e esta canção. Hoje dedico-o à minha Avó, Maria do Carmo, que vive no Brasil e que nestes últimos dias está a lutar pela vida. A minha Avó e eu temos 50 anos de diferença. E temos mais coisas diferentes. Mas temos tanto em comum. O facto de ela estar longe faz-me sentir ainda mais impotente. Queria poder estar ao lado dela, nestas noites longas, nos cuidados intensivos. A minha avó Maria do Carmo não é uma avó convencional. Mas é uma mulher admirável na sua vida infeliz. Com ela aprendi que a felicidade é finita e que tudo pode mudar de um momento para o outro. Com ela aprendi que não se pode confiar muito na vida e que nunca devemos estar tranquilos em relação ao futuro. Aprendi que o amor nem sempre tem que ser simpático. Mas tem que ser fiel. E duradouro. E leal. E constante. Sinto muito a falta da minha avó. E nesta noite, mais uma nos cuidados intensivos, em que luta para viver, quero abraça-la com muita saudade. E quero acreditar que ainda vou voltar a estar ao seu lado. Um beijo grande Avó. Não nos deixe.

1 comentário:

Maresia disse...

O grande mestre...