terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Da vida uma aventura errante


"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente."

'Soneto da Separação', de Vinícius de Moraes
(No dia em que regresso a Lisboa. A Avó continua ligada a uma máquina. Não morreu mas também não melhorou. Dizem-nos que não há mais nada a fazer. Que só temos que esperar que o coração falhe e que chegue ao fim o sofrimento em que ela está. Despedi-me e parto com a certeza de que lhe disse o quanto ela era importante para mim. Não é fácil amar quem é infeliz. Mas isso, claro, eu não lhe disse.)

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