“Nada mais suave do que arrastarmo-nos atrás dos acontecimentos; e nada mais ‘razoável’. Mas sem uma forte dose de demência não há iniciativa, nem empreendimento, nem gesto. A razão: ferrugem da nossa vitalidade. É o louco que há em nós que nos força à aventura; se nos abandonar, estaremos perdidos; (…)
Não se pode ser ‘normal’ e estar vivo ao mesmo tempo. Se me mantenho em posição vertical e me preparo para preencher o próximo instante, se, em suma, concebo o futuro, é porque intervém um oportuno desvario do meu espírito.
Quando me torno sensato, tudo me intimida: deslizo em direcção à ausência, a fontes que não se dignam jorrar, a essa prostração que a vida deve ter conhecido antes de conceber o movimento, atinjo, à força de cobardia, o fundo das coisas, encurralado à beira de um abismo contra o qual nada posso e que me isola do futuro”.
Não se pode ser ‘normal’ e estar vivo ao mesmo tempo. Se me mantenho em posição vertical e me preparo para preencher o próximo instante, se, em suma, concebo o futuro, é porque intervém um oportuno desvario do meu espírito.
Quando me torno sensato, tudo me intimida: deslizo em direcção à ausência, a fontes que não se dignam jorrar, a essa prostração que a vida deve ter conhecido antes de conceber o movimento, atinjo, à força de cobardia, o fundo das coisas, encurralado à beira de um abismo contra o qual nada posso e que me isola do futuro”.
E.M. Cioran, in 'A Tentação de Existir'
via 'Melancómico'
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