"Saudades! Sim... talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!"
Florbela Espanca
A minha tia Rosinda morreu ontem. Olho para o teclado do meu computador porque queria escrever qualquer coisa sobre ela, uma homenagem, um texto que pudesse dizer a falta que vou sentir dela. Mas a verdade é que só mesmo o silêncio me convém. O silêncio para que me lembre da sua voz a declamar Florbela Espanca enquanto cozinhava. O silêncio para poder escutar a sua gargalhada quando contava histórias antigas da família. O silêncio para poder ouvir a sua forma romântica de falar das coisas mais vulgares como os amores e desamores das princesas europeias.
A minha tia Rosinda era uma mulher única. Lia poesia com o mesmo fervor com que discutia as revistas do social. Falava de História com a mesma paixão com que preparava as mais extraordinárias refeições para toda a família. Era uma chefe de clã. Motivava-nos, mimava-nos, repreendia-nos. Tratava-nos a todos como se fossemos seus filhos. E quando estávamos juntos, entre almoços, chás, jantares e ceias, descobríamos que éramos todos do mesmo sangue ainda que fossemos de sangues diferentes.
A minha tia Rosinda, casada com o irmão mais velho do meu pai, o meu tio Zé, foi a minha primeira avó. Com ela aprendi que devemos seguir sempre os nossos sonhos, por mais disparatados que nos pareçam. Aprendi que amar é uma luta diária mas que diariamente vale a pena. Aprendi que os amores só são impossíveis se desistirmos de os viver.
O peso da sua ausência é intransponível. Voltar à Quinta das Mimosas sem a sua presença é enfrentar um silêncio terrível. A sua morte, ontem, representa o fim de um ciclo feliz. Se há três meses a morte da minha avó Maria do Carmo foi um duro golpe, a morte da minha tia Rosinda, ontem, representa o fim da minha infância. A partir de hoje espero tudo. Porque o seu sorriso quando nos encontrávamos representava a pureza dos anos em que fui mais feliz. E esse sorriso será em silêncio que o recordarei. Para sempre.
A minha tia Rosinda era uma mulher única. Lia poesia com o mesmo fervor com que discutia as revistas do social. Falava de História com a mesma paixão com que preparava as mais extraordinárias refeições para toda a família. Era uma chefe de clã. Motivava-nos, mimava-nos, repreendia-nos. Tratava-nos a todos como se fossemos seus filhos. E quando estávamos juntos, entre almoços, chás, jantares e ceias, descobríamos que éramos todos do mesmo sangue ainda que fossemos de sangues diferentes.
A minha tia Rosinda, casada com o irmão mais velho do meu pai, o meu tio Zé, foi a minha primeira avó. Com ela aprendi que devemos seguir sempre os nossos sonhos, por mais disparatados que nos pareçam. Aprendi que amar é uma luta diária mas que diariamente vale a pena. Aprendi que os amores só são impossíveis se desistirmos de os viver.
O peso da sua ausência é intransponível. Voltar à Quinta das Mimosas sem a sua presença é enfrentar um silêncio terrível. A sua morte, ontem, representa o fim de um ciclo feliz. Se há três meses a morte da minha avó Maria do Carmo foi um duro golpe, a morte da minha tia Rosinda, ontem, representa o fim da minha infância. A partir de hoje espero tudo. Porque o seu sorriso quando nos encontrávamos representava a pureza dos anos em que fui mais feliz. E esse sorriso será em silêncio que o recordarei. Para sempre.
7 comentários:
É incrível como fico sem palavras cada vez que leio algo teu. Este final de semana que passou, comentei algo que li no teu blog com alguns amigos, era, exatamente sobre o post que chama "de um amor que permanece". Li e jamais esqueci...
Sinto por tua perda, Pedro. E sei que só sabe da dor quem a sente, mas sei que maior do que a dor, é Deus. Então desejo do fundo da alma o conforto divino pro teu coraçao.
abraços
Sinto muito a tua dor...
as tuas perdas...
perdemo-los fisicamente mas eles ficam sempre connosco... e mais presentes até...
tive há algum tempo um período na vida em que tb tive importantes perdas sucessivas de pessoas importantes para mim... avalio o que sentes...
extraordinária é a maneira como te partilhas com todos nós...
muito obrigada por tudo quanto nos dás com os teus escritos...
Lamento Muito, Pedro, e muito bem percebo a tua dor. Abraço Forte.
O Sorriso*
Creio que foi o sorriso,
O sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
*Eugénio de Andrade
Tenho saudades de ler as tuas coisas... precisamos de ti!
Olá Pedro.
Se o Pedro é quem eu penso, então é filho da Drª Isabel Riscado Rapoula, uma excelente pessoa e médica ginecologista/obstreta que me acompanhou quando estive grávida das minhas duas filhas mais novas.
Sou professora e uma das minhas alunas, a Sofia M. Rapoula P. Abreu, sobrinha-neta da Drª Isabel a quem, há pouco tempo morreu a avó, que, acho que seja a sua tia Rosinda.
O mundo é mesmo um local pequenino.
Seja ou não filho da DrªIsabel, quero apenas dizer-lhe que gostei muito de conhecer o seu blogue, que descobri por puro acaso.
Fique bem Pedro, acredite que apesar das suas perdas, o Sol da felicidade há-de voltar a brilhar também para si.
Nao há nada como parar e ouvir o silêncio =)))
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