quarta-feira, 28 de abril de 2010

Inventários e detalhes


"Deus não aparece no poema
apenas escutamos a sua voz de cinza
e assistimos sem compreender
a escuras perícias

A vida reclama inventários e detalhes
não a oiças
quando inutilmente perscruta as sequências
do seu trânsito

Só há um modo verdadeiro de rezar:
estende o teu corpo ao longo do barco
que desce silencioso o canal
e deixa que as folhas mortas dos bosques
te cubram"

José Tolentino Mendonça
(no dia em que este blog completa 4 anos)

domingo, 4 de abril de 2010

Este amor sem tamanho


Quem és tu, de xaile negro
que ouço na rua a cantar?
Como sabes do degredo
que é este sofrer por amar?

Que lágrimas são essas que caem
Quando apertas o xaile no peito?
Sentes ainda o calor
Do nosso abraço desfeito?

Que fado é esse que cantas
com tanta amargura na voz?
Falas de tristezas tantas
Parece que falas de nós...

Que palavras são essas que choras
Que promessas, que solidão
Que olhar é esse perdido
No meio da escuridão?

Que amargura é essa que escondes?
Que olhos tristes os teus…
Lembras os dias felizes
Ou choras o ultimo adeus?

Que vida é esta que tenho,
que dor e que prisão,
é este amor sem tamanho
que trago no coração?