quinta-feira, 31 de maio de 2007

De Amicitia

"(...) Tinha uma paixão secundária, mas não menos importante, embora possivelmente não tão egoísta e seguramente menos solitária. Cultivava os amigos, não este nem aquele em especial, mas os amigos, como entes que corporizavam uma categoria sobre a qual era capaz de discorrer horas a fio: a amizade. (...) Citava Cícero mas não sabia mais do De Amicitia que uma frase (...) que, na sua imprecisa recordação, dizia mais mais ou menos assim: «De todas as virtudes humanas, nenhuma é tão rara e tão próxima do coração do homem como a amizade.» Praticava com zelo a disciplina, como ele a entendia: não perguntava nada, não pedia nada, disponibilizava-se para tudo o que os amigos precisassem. E seguia as necessidades dos outros com uma bulimia do pormenor que ficaria bem a um detective, intuindo-lhes desejos, adivinhando-lhes projectos, antecipando gestos e afectos. Era um verdadeiro amigo, diziam os amigos; ele, modestamente, achava-se apenas um homem comum.(...)."
António Mega Ferreira, in 'A Expressão dos Afectos'

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigado por Blog intiresny