quarta-feira, 20 de junho de 2007

De que foges

"(...) Prometi a mim mesmo que vou regressar à vida. Para isso inventei um ritual. Agarrei na caixa que tenho com as infinitas fotografias que te tirei e decidi que todos os dias escolho uma. Passo horas a fixá-la até a conhecer de cor e no fim rasgo-a em mil pedaços. Conto com isto acabar com todas a fotografias e poder enfim passar a um plano menos corpóreo da tua memória. Porque se conseguir fixar todos os teus traços e expressões, não vai haver perigo de que te esqueça. É disso que tenho medo. De me esquecer da tua cara. Há histórias de pessoas que a pouco e pouco vão esquecendo as feições dos que mais amaram. (...) Mas já pensaste o que seria, se te esquecesse?
(...) Como encaravas tu o encontrares-me com outra pessoa aqui em casa, profanando aquele espaço que sempre foi tão nosso? Tens o teu território marcado, é o que penso para comigo. Não posso ultrapassar o peso da tua presença, mas reconheço que por vezes me falta o ar quando penso na eternidade desse teu estado imaterial. Sei que me rodeias mas por vezes a força para te agarrar não chega e foges de mim, correndo pela casa, brincando comigo. Tenho medo disso. Porque foges tu? És feliz?(...)"
Pedro Rapoula, in 'Iniciação à Tristeza'

2 comentários:

Anónimo disse...

A tristeza é a melhor forma de entendermos que a felicidade foi nossa.Por isso, quando te sentires feliz não deixes também escapar a infelicidade.Faz dela uma linda forma de te sentires previligiado de,pelo menos senti-la.Como poderemos nós pensar que perdemos algo?se nada na vida nos pertence!Temos é muita sorte de experimentarmos sentimentos elevados que nos enchem de sensibilidade, e nos fazem transportá-la para o mundo através da escrita,da música...
A TEU LADO
Apesar de ser sozinha é na vida que encontro um caminho para as palavras soltas na tristeza.
Tristeza de vêr claramente,de sentir constantemente.
Apesar de ser só, encontrei-te no caminho e sentei-me ao luar de mãos dadas com a noite para que não vejas a tristeza que a luz tenta desvendar.
Para que nunca sintas o dia terminar.
Para viveres sempre na noite ao luar.
Compreender as minhas sensações é compreender as minhas desilusões.
Nós não nos vamos separar nem juntar os corações.
Vamos apenas namorar as nossas ilusões que o dia acontece sempre a sorrir
e não há nada que nos faça desistir.
Apesar de estar só é contigo que quero ir.Apenas para te acompanhar, sem teres de me entender ou claramente vêr, ou constantemente sentir.Apenas quero ao teu lado ir.

Anónimo disse...

E não é previligiado mas sim privilegiado.Está corrigido.É um privilégio poder aprender com os erros!Todos erramos...mas serão de facto erros?ou formas de aprendermos a conhecer melhor quem somos?