"Meu coração tardou. Meu coração
Talvez se houvesse amor nunca tardasse;
Mas, visto que, se o houve, houve em vão,
Tanto faz que o amor houvesse ou não.
Tardou. Antes, de inútil, acabasse.
Talvez se houvesse amor nunca tardasse;
Mas, visto que, se o houve, houve em vão,
Tanto faz que o amor houvesse ou não.
Tardou. Antes, de inútil, acabasse.
Meu coração postiço e contrafeito
Finge-se meu. Se o amor o houvesse tido,
Talvez, num rasgo natural de eleito,
Seu próprio ser do nada houvesse feito,
E a sua própria essência conseguido.
Finge-se meu. Se o amor o houvesse tido,
Talvez, num rasgo natural de eleito,
Seu próprio ser do nada houvesse feito,
E a sua própria essência conseguido.
Mas não. Nunca nem eu nem coração
Fomos mais que um vestígio de passagem
Entre um anseio vão e um sonho vão.
Parceiros em prestidigitação,
Caímos ambos pelo alçapão.
Foi esta a nossa vida e a nossa viagem."
Fomos mais que um vestígio de passagem
Entre um anseio vão e um sonho vão.
Parceiros em prestidigitação,
Caímos ambos pelo alçapão.
Foi esta a nossa vida e a nossa viagem."
Fernando Pessoa
* Foto de Daniel Gustav Cramer (cuja exposição pode ser vista na Vera Cortes Art Agency até 7 de Setembro)
3 comentários:
às vezes, para nao passarmos em vão, basta parar... por 1 min que seja!
parabens pelo blog
é Cortês e não Cortez, que isso deve ser o Joaquín!
Tem razão o anónimo das 9:56 AM: é Cortês com S e não com Z. Mas olhe que Cortez com Z há muitos além do Joaquim. Só eu conheço 2! E portugueses! (Obrigado pelo reparo!) Já corrigi, reparou? Abraço!
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