quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Uma tristeza de todo o ser

"(...) Nessas horas lentas e vazias, sobe-me da alma à mente uma tristeza de todo o ser, a amargura de tudo ser ao mesmo tempo uma sensação minha e uma coisa externa, que não está em meu poder alterar. Ah, quantas vezes os meus próprios sonhos se me erguem em coisas, não para me substituírem a realidade, mas para se me confessarem seus pares em eu os não querer, em me surgirem de fora, como o eléctrico que dá a volta na curva extrema da rua, ou a voz do apregoador nocturno, de não sei que coisa, que se destaca, toada árabe, como um repuxo súbito, da monotonia do entardecer!
(...)"


Bernardo Soares, in 'Livro do Desassossego'

1 comentário:

daniel costa-lourenço disse...

Bela fotografia e texto divino.

Daniel costa-lourenço
http://strawsea.blogspot.com