Em resposta a este post da Laura
O Silêncio. O tal silêncio que deixava todos envergonhados quando se olhavam nos olhos. Sobreviver à tragédia era, no fim de contas, viver a humilhação da derrota. Ao fim de tantos e tantos dias os pesados portões da cidade continuavam abertos. Não havia nada para defender que justificasse a sua urgente reconstrução.
Começaram por limpar as ruas, enterrando os mortos em fundas covas nos limites das grandes muralhas, no sítio mais longe da vista de todos. Em vez de cruzes plantaram uma árvore no lugar de cada morto: pinheiros bravos para os homens e árvores de fruto para as mulheres. Passado este tempo recomeçaram a construção das grandes portas da cidade. Quando as fecharam respiraram de alívio por se saberem separados do resto do mundo. Escondiam a vergonha e a desilusão dos olhares indiscretos de todos os que agora se regozijavam com a queda daquela cidade antes impenetrável. Só depois, pedra a pedra, levantaram as paredes das casas, uma a uma. Sem luxos, sem sedas, sem ouro. Apenas a crueza da pedra e o aveludado da madeira. O regresso às origens. A austeridade humilde dos que precisam da simplicidade para se fortalecerem. O luto durou um tempo indeterminado. Só quando se ouviu o choro da primeira criança nascida depois do ataque, a cidade voltou a respirar de alívio. E nesse dia as árvores no cemitério floriram pela primeira vez. E nas janelas das austeras casas de pedra começaram a aparecer pequenos vasos com rosas de todas as cores. A tristeza dera lugar à esperança. A vida recomeçara. E todo aquele sofrimento deu lugar à certeza de que não voltariam a ser humilhados daquela forma.
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