Vou ali, já venho...
sábado, 25 de novembro de 2006
sexta-feira, 24 de novembro de 2006
Horas
"Vivemos as nossas vidas, fazemos seja o que for que fazemos e depois dormimos: é tão simples e tão normal como isso. Alguns atiram-se de janelas, ou afogam-se, ou tomam comprimidos; um número maior morre por acidente, e a maioria, a imensa maioria é lentamente devorada por alguma doença ou, com muita sorte, pelo próprio tempo. Há apenas uma consolação: uma hora aqui ou ali em que as nossas vidas parecem, contra todas as probabilidades e expectativas, abrir-se de repente e dar-nos tudo quanto jamais imaginámos, embora todos, excepto as crianças (e talvez até elas), saibamos que a estas horas se seguirão inevitavelmente outras, muito mais negras e mais difíceis. Mesmo assim, adoramos a cidade, a manhã, mesmo assim desejamos, acima de tudo, mais."
Michael Cunningham, in 'As Horas'
terça-feira, 21 de novembro de 2006
Certezas
“Não se pode ter muitos amigos e mesmo os poucos amigos que se tem, não se podem ter tanto como nos apetecia. Para não passar mal, aprende-se a economia da amizade, ciência um bocado triste e um bocado simples que consiste em ampliar os gestos e os momentos de comunidade para compensar os grandes desertos de silêncio e de separação que são normais. Como por exempo? Como, por exemplo, abrir mesmo os braços e dar mesmo um abraço. Dizer mesmo na cara de alguém «Tu és um grande amigo» e ser mesmo verdade. Acho que não é de aproveitar todos os momentos como se fossem os únicos, porque isso seria uma forma de paixão, mas antes estarmos com os amigos, nos poucos momentos que se têm, como se nunca nos tivéssemos separado.
A amizade é uma condição que nunca pode ser excepcional. Tem de ser habitual e eterna e previsível. E a economia dela nota-se mais quando reparamos que, sempre que não estamos com os nossos amigos, estamos sempre a falar deles. É bom dizer bem de um amigo, sem que ele venha a saber que dissemos. E ter a certeza que ele faz o mesmo, pensando que nós não sabemos.
A amizade vale mais que a razão, o senso comum, o espírito crítico e tudo o mais que tantas vezes justifica a conversação, o convívio e a traição. A amizade tem de ser uma coisa à parte, onde a razão não conta. Ter um amigo é como ter uma certeza. Num mundo onde certezas, como é óbvio, não há.”
Miguel Esteves Cardoso, in ‘Os Amigos e os Amigalhaços’
sexta-feira, 17 de novembro de 2006
Apesar de mim
"O que costumava amar, já não amo
minto: amo, mas amo menos
ainda assim continuo a mentir:
amo, mas mais envergonhadamente, mais tristemente
agora é que disse a verdade.
De facto, é assim: amo, mas desejaria não amar o que amo, desejaria odiá-lo
amo todavia, mas sem querer, mas coagido, mas triste e em pranto.
E, mísero, em mim mesmo experimento aquele famosíssimo dito:
Odiarei se puder
se não, amarei apesar de mim."
obrigado pela descoberta e pela partilha, Miguel
segunda-feira, 13 de novembro de 2006
amor
sexta-feira, 10 de novembro de 2006
Flor da Pele
"Ando tão à flor da pele,
que qualquer beijo de novela me faz chorar
Ando tão à flor da pele,
que teu olhar, flor na janela, me faz morrer
Ando tão à flor da pele,
que meu desejo se confunde com a vontade de ... não ser
Ando tão à flor da pele,
que a minha pele tem o fogo do juízo final"
Flor da Pele de Zeca Baleiro, in 'Por Onde Andará Stephen Fry?'
quinta-feira, 9 de novembro de 2006
Ruas
"Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
— a delimitar a tua altura
e bebo a água
e sorvo o ar que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco"
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
— a delimitar a tua altura
e bebo a água
e sorvo o ar que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco"
Mario Cesariny
quarta-feira, 8 de novembro de 2006
Nada
"Numa ânsia de ter alguma cousa,
Divago por mim mesmo a procurar
Desço-me todo, em vão, sem nada achar,
E a minha alma perdida não repousa.
Nada tendo, decido-me a criar:
Brando a espada: sou luz harmoniosa
E chama genial que tudo ousa
Unicamente à força de sonhar...
Mas a vitória fulva esvai-se logo...
E cinzas, cinzas só, em vez de fogo...
-Onde existo que não existo em mim?
..........................................................
Um cemitério falso sem ossadas,
Noites d'amor sem bocas esmagadas
-Tudo outro espasmo que principio ou fim..."
Divago por mim mesmo a procurar
Desço-me todo, em vão, sem nada achar,
E a minha alma perdida não repousa.
Nada tendo, decido-me a criar:
Brando a espada: sou luz harmoniosa
E chama genial que tudo ousa
Unicamente à força de sonhar...
Mas a vitória fulva esvai-se logo...
E cinzas, cinzas só, em vez de fogo...
-Onde existo que não existo em mim?
..........................................................
Um cemitério falso sem ossadas,
Noites d'amor sem bocas esmagadas
-Tudo outro espasmo que principio ou fim..."
terça-feira, 7 de novembro de 2006
segunda-feira, 6 de novembro de 2006
domingo, 5 de novembro de 2006
Mentira
"De mim não falo mais :não quero nada.
De Deus não falo: não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
pois nasce e morre em cada madrugada.
Nem de existir, que é a vida atraiçoada,
para sentir o tempo andar comigo;
nem de viver, que é liberdade errada,
e foge todo o Amor quando o persigo.
Por mais justiça ... - Ai quantos que eram novos
em vão a esperaram porque nunca a viram!
E a eternidade... Ó transfusão dos povos!
Não há verdade: O mundo não a esconde.
Tudo se vê: só se não sabe aonde.
Mortais ou imortais,todos mentiram."
Jorge de Sena, in 'Genesis'
sexta-feira, 3 de novembro de 2006
Agonia
"(...) Mas na realidade não sei ainda se quero que te vás ou fiques, é tão difícil saber. Porque num caso ou noutro agonizo. Mas como sabes há um outro de nós que escolhe quando é de ser, mesmo contra o que julgamos querer. Assim, hoje ao acordar fiquei aterrado ao ver que de noite me rolara para o meio da cama. Deitei-me como sempre do meu lado, para deixar livre o teu no caso de resolveres voltar e te deitares nele. Mas o sono levou-me para o sítio que é o bom e fica à minha esquerda. Porque é que eu me passei para o meio da cama? e só acho uma como resposta o teres morrido para sempre. E fiquei horrorizado da minha libertação. Não vás ainda. Volta de novo. Vou deitar-me outra vez no meu lugar e deixar o teu à espera. Vem de noite sem eu dar conta e acordar contigo ainda no teu sono e tocar-te e seres tu. (...)"
Vergílio Ferreira, in 'Cartas a Sandra'
quinta-feira, 2 de novembro de 2006
quarta-feira, 1 de novembro de 2006
Tristeza
"(...) E é curioso como te ouço e te vejo sempre igual. O meu nome. É o que quase sempre te ouço. O chamamento de mim mas como de longe, mesmo se for ao pé. Como se num pedido de socorro, chamamento leve de sofrimento. E a tua face. Ou o teu andar não sei por onde. Face doce flutua no incerto de ti. E os olhos, só olhar. Sempre séria e triste, devias ter o que te magoasse desde os começos da vida ou de mais longe(...)."
Vergílio Ferreira, in 'Cartas a Sandra'
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