Tinha escolhido o último dia do ano para pôr termo à sua triste existência. Arrumara a roupa e fizera lotes de cd's e livros que separara com um post-it para cada um dos seus amigos mais chegados. Depois de limpar toda a casa dedicou um tempo especial a preparar a sua cerimónia fúnebre. Queria que fosse uma coisa simples, claro, mas queria que fosse absoluta e esteticamente inesquecível. Para o velório colocou no seu I-pod uma playlist a que chamou 'Série Músicas que Arrepiam' com as músicas que deveriam passar em repetição até que tudo aquilo acabasse. Eram as suas músicas favoritas. Cada uma delas tinha uma mensagem importante para cada um dos seus amigos e cabia-lhes agora decifrar esse puzzle.
Escolheu para que lhe vestissem um fato cinzento escuro, uma camisa branca e uma gravata roxa, a sua predilecta, que por ter pequenas coroas lhe garantia sempre uma ou outra piada que envolvia a República e a Monarquia. Escolheu a roupa interior com o mesmo cuidado com que escolheria se fosse o dia do seu casamento. Engraxou os sapatos e arranjou tudo colocando em cada sítio post-its amarelos que fossem indicando o caminho a quem tivesse que o preparar para o seu funeral.
À medida que o tempo passava e os comprimidos começavam a fazer efeito ia ficando cada vez mais seguro de que tinha tomado a decisão correcta. Estava, evidentemente, com medo de que as coisas não corressem bem, mas por outro lado sabia que a libertação era garantida.