"Poderia libertar-me do peso do mundo nos teus braços;
poderia tirá-lo de cima de mim, atirá-lo para o outro lado
da casa, para algum canto escondido; e poderia
ficar contigo, na leveza do teu corpo, ouvindo
o cair do tempo nalgum relógio invisível.
O mundo, no entanto, insiste comigo. Está ali,
no fundo da casa, com o seu peso. Espera que alguém
pegue nele, e volte a descer a escada, curvado, como
se tudo o que tivéssemos de fazer fosse carregá-lo
para baixo e para cima, nestas escadas sem elevador.
E eu, contigo, ao abraçar-te, espero que o mundo
não se mexa no seu canto, no fundo da casa. Abraço-te
como se o teu corpo me libertasse desse peso, como
se ele não estivesse à minha espera, para que o desça
e suba por estas escadas de um prédio sem elevador.
Mas o amor também tem o peso do mundo. E as
palavras com que nos despedimos, antes que eu pegue nele
e te deixe entregue à tua leveza, trazem o eco das coisas
que atirei para o fundo da casa, onde não quero que vás,
para que não tenhas de carregar, também tu, o peso do mundo."
(para te dizer que tenho muitas saudades da tua leveza)